Vereadores e secretária debatem obras e serviços do SUS de Curitiba

Vereadores e secretária debatem obras e serviços do SUS de Curitiba

A entrega de obras e de novos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) da capital paranaense foi o tema predominante dos questionamentos à secretária Tatiane Filipak, na sessão desta terça-feira (30) da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). Com a participação de 18 dos 38 vereadores, além de cidadãos que acompanhavam a audiência pública da Comissão de Saúde e Bem-Estar Social, o debate durou quase uma hora e meia. O espaço para perguntas foi aberto depois da apresentação dos indicadores do segundo quadrimestre de 2025.

Filipak comparou os projetos da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) a um “grande canteiro de obras”. Ela reforçou a meta da gestão de reformar 82 unidades básicas de saúde (UBS) e construir outras seis, além de implantar novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e construir um novo prédio para o Hospital do Bairro Novo, ampliando os leitos disponíveis à população.

Conforme a secretária municipal da Saúde, já foi adquirido o imóvel para a UPA Santa Felicidade, que deve ser lançada no primeiro trimestre de 2026. “Nós queríamos um terreno próximo ao terminal. Vou dar um spoiler”, adiantou ela em resposta ao presidente da Comissão de Saúde, Sidnei Toaldo (PRD). “A UPA Matriz, como nosso prefeito já falou, vamos lançar ainda este ano, em dezembro”, completou Filipak após pedido da vereadora Rafaela Lupion (PSD).

Ao vereador Marcos Vieira (PDT), a gestora do SUS de Curitiba falou do “desafio” do novo Hospital do Bairro Novo, na região sul de Curitiba. A obra, reforçou, será feita por meio de uma parceria público-privada (PPP). “Nós estamos contratando um serviço especializado para a implantação da PPP”, indicou. Na sequência, de acordo com ela, a licitação deve ser liberada até o primeiro semestre de 2026. A expectativa é entregar a obra até o fim da gestão.

“Eu nunca posso fazer uma reforma no primeiro semestre, no pico de atendimento”, disse Filipak sobre as reformas das UPAs, tema levantado por Jasson Goulart (Republicanos). A revitalização da UPA do Cajuru será a primeira entrega, nos próximos meses. Concordando com a vereadora Andressa Biachessi (União) que “temos muito a avançar” em termos de saúde única, a secretária da Saúde informou que estão sendo avaliadas possibilidades de imóveis que permitam a ampliação das atividades do Centro de Zoonoses.

Atendimentos da rede SUS de Curitiba

Os atendimentos das redes básica e especializada, além da ampliação do número de profissionais do SUS de Curitiba, também foram temas demandados pelos vereadores. As políticas públicas sobre drogas, por exemplo, foram levantadas por Indiara Barbosa (Novo), Eder Borges (PL) e Professora Angela (PSOL). Na avaliação de Tatiane Filipak, estratégias como a transformação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) do tipo 2 em tipo 3, em que o atendimento também é feito à noite, ampliaram leitos, deixando a rede mais robusta.

“O que a gente precisa é que a comunidade terapêutica também tenha um procedimento-padrão. Quem eles vão receber? Eles estão preparados?”, comentou a gestora do SUS após a primeira pergunta sobre o tema, feita por Indiara Barbosa. Além de mudanças nos formatos de atendimento dos CAPs, ela disse à Professora Angela que o plano de governo prevê a implantação de dois novos Centros de Atenção Psicossocial. Ao vereador Eder Borges, Filipak defendeu que o trabalho dos CAPs é “robusto” e que, se a pessoa aderir ao internamento, não faltam leitos em Psiquiatria. No entanto, ela citou o desafio do atendimento à população em situação de rua.

Outro desafio, mencionado pelos vereadores Carlise Kwiatkowski (PL), Renan Ceschin (Pode) e Fernando Klinger (PL), são os episódios de violência contra servidores da rede pública de saúde. A primeira parlamentar afirmou ter presenciado e recebido relatos sobre o aumento de migrantes que têm buscado atendimento na rede pública de saúde, “alguns de maneira agressiva”.

“E um dos fatos que eu vi e ouvi relatos de alguns profissionais é que geralmente eles buscam as unidades de saúde nas sextas-feiras e nas segundas-feiras, geralmente em busca de atestado”, declarou Kwiatkowski. Em tais dias da semana, reforçou Ceschin, o volume de atendimentos cresce em torno de 30% devido à busca por atestados.

“Eu acho muito importante quando vocês vão até as unidades. Nós queremos isso, que [vocês] conheçam as unidades [básicas], os hospitais, porque a realidade lá [na ponta] é bem diferente”, comentou a titular da SMS. Em relação à população migrante, a secretária disse que o idioma e a cultura, a exemplo do pré-natal das gestantes, são os principais desafios. “É uma mudança de cultura que nós devemos trabalhar”, observou.

Tatiane Filipak disse ter lido um estudo segundo o qual Curitiba é uma das cidades que mais recebe pessoas de outros países e de outros estados brasileiros, em busca de saúde pública de qualidade e de emprego. Ela confirmou que as segundas e sextas “são o dia do atestado” para a população em geral, e não apenas para os migrantes, o que motivará o lançamento de campanha conjunta com a Região Metropolitana de Curitiba (RMC). A violência contra os profissionais da saúde, completou, vem sendo combatida em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR).

Em resposta a Serginho do Posto (PSD) de como “organizar melhor a resposta ao usuário” que aguarda por procedimentos eletivos, a secretária municipal da Saúde indicou que a ideia é trabalhar a chamada fila interna por meio da inserção de um indicador nos contratos com os hospitais da rede conveniada. Admitindo que as filas em algumas das especialidades são um desafio, Filipak defendeu, após questionamento de Vanda de Assis (PT), a criação do Programa Especialidade em Ação e a ampliação da rede credenciada para áreas como a Neuropediatria.

A Jasson Goulart, que perguntou sobre os atendimentos odontológicos, Tatiane Filipak alertou que a taxa de absenteísmo, assim como em outros atendimentos especializados, gira na faixa de 30%. Em relação ao monitoramento da diabetes tipo 1, tema citado por Renan Ceschin, Filipak disse que a SMS vem estudando o impacto e os grupos prioritários para a oferta do sensor CGM – sigla para “Continuous Glucose Monitoring” (Monitoramento Contínuo de Glicose).

“Nós temos uma faixa etária muito importante para o CGM”, explicou ela sobre grupos como as crianças e as gestantes. O CGM, explicou, é um sensor adaptado na pele do paciente que permite o monitoramento contínuo da glicemia, sem a necessidade de “ficar fazendo ponta de dedo, como a gente chama, picando o dedinho”.

A gestora do SUS de Curitiba também afirmou que existem planos para ampliar a força de trabalho da Saúde. De acordo com ela, haverá o chamamento de 277 servidores estatutários para a atenção primária, entre dentistas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e outros profissionais, e de banco de funcionários celetistas via Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas).

Ainda conforme Filipak, a expectativa é que sejam realizados processos seletivos para profissionais de áreas em que não há banco de vagas, a exemplo dos agentes de saúde e de endemias – preocupação levantada por Vanda de Assis. As contratações também foram uma das áreas questionadas pela vereadora Professora Angela.

Estratégias para vacinação e contra mortalidade materna são debatidas

Indicadores da saúde pública também motivaram indagações em plenário. Camilla Gonda (PSB), por exemplo, quis saber as estratégias da Prefeitura de Curitiba para combater a desinformação e garantir a proteção das crianças por meio da vacinação. “Nós não podemos obrigar os pais a fazer a vacina, então nós precisamos conscientizar”, respondeu. Filipak alertou que “crianças morrem por causa de uma gripe que poderia ter sido evitada por uma vacina”. “Não tenho dúvida sobre a efetividade da vacina. Mas, infelizmente, a gente precisa que a ciência prevaleça em relação às fake news”, reforçou.

Já Laís Leão (PDT) apontou o aumento, “mesmo que discreto”, da mortalidade materna. Conforme a titular da SMS, “a metodologia, hoje, ainda é muito impactada pelo número de nascidos vivos”. Ela explicou que a SMS possui um comitê que avalia todos os óbitos. Entre os desafios, Filipak citou eventuais complicações devido à média maior de idade das gestantes; ao sobrepeso e à obesidade; e à falta de adesão ao pré-natal, em especial entre a população migrante, devido à questão cultural. “A diabetes, a obesidade, temos que colocar isso na mesa, […] uma gestante que é diabética, é hipertensa, é um risco, é uma gestação de risco.”

Outros temas surgiram durante o debate da audiência pública. À vereadora Andressa Bianchessi, que celebrou a distribuição de medicamento para esporotricose animal no Hospital Público Veterinário, a partir de indicação de sugestão de sua autoria, Filipak reforçou a importância da integração com a Câmara de Curitiba, devido à complexidade da rede.

Em resposta a João da 5 Irmãos (MDB), que quis saber mais sobre as estratégias adotadas para incentivar a participação popular na saúde pública, em especial nas regiões mais vulneráveis da cidade, Tatiane Filipak elencou “o sucesso do Fala Curitiba”, ações como o funcionamento de unidades básicas aos sábados e o controle local de saúde exercido pelo Conselho Municipal de Saúde.

Indiara Barbosa também levantou a questão da burocracia sanitária apontada por entidades – tema que, segundo Filipak, vem sendo trabalhado a partir da revisão dos procedimentos-padrão, “sempre dentro da segurança nos atendimentos”. Essa revisão, explicou, já foi discutida com hospitais e escolas. O foco, agora, são as instituições de longa permanência para idosos (ILPIs). Representantes de instituições deste segmento inclusive acompanharam a audiência pública e demandaram a secretária sobre as residências inclusivas. No entanto, ela afirmou que a regulamentação compete à Secretaria Municipal de Direitos Humanos (SMDH), comandada pela vereadora licenciada Amália Tortato.

“Quem ganha um órgão, ganha vida”, disse Filipak em resposta à vereadora Rafaela Lupion, que lembrou da campanha Setembro Verde, de incentivo à doação de órgãos. A telerregulação, destacou a secretária à vereadora Camilla Gonda, é um serviço do SUS de Curitiba que pode ser levado a outros locais do Brasil.

Sobre os atendimentos de reabilitação, tema citado por Marcos Vieira, a representante do Executivo Municipal conta com o Complexo Pequeno Cotolengo, grupos nas unidades básicas de saúde e atendimentos em domicílio, além dos serviços do Estado. Por solicitação da Professora Angela, a secretária discorreu, também, sobre ações de combate ao racismo institucional e de atendimento à população LGBT, em especial das pessoas trans, “inclusive com a entrega dos medicamentos, os hormônios”, mencionou ela.

Toninho da Farmácia (PSD) registrou que as reclamações, em especial na região da Vila Verde, “foram praticamente sanadas”. Meri Martins (Republicanos) também se somou ao debate, parabenizando as ações da Saúde de Curitiba, principalmente junto aos pacientes com doenças crônicas, as estratégias de vacinação e a capacitação dos servidores para o atendimento do transtorno do espectro autista (TEA).

*Notícia revisada pelo estudante de Letras Celso Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques

By Câmara Municipal de Curitiba