No Brasil, 80 mil pessoas aguardam transplante, alerta presidente da ABTx

No Brasil, 80 mil pessoas aguardam transplante, alerta presidente da ABTx

A Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), desta quarta-feira (24), reuniu médicos, entidades e transplantados para debater os desafios da doação de órgãos e da reinserção social dos pacientes. O convidado principal foi o médico Edson Arakaki, presidente da Associação Brasileira de Transplantados (ABTx), que chamou atenção para a dimensão do problema. “Nós temos aproximadamente 80 mil pessoas esperando um órgão no Brasil, incluindo 1.300 crianças. Apesar de o SUS ter um programa de excelência, a fila continua crescendo”, alertou.

A atividade foi proposta pela vereadora Rafaela Lupion (PSD), em alusão ao Setembro Verde, campanha nacional de incentivo à doação de órgãos. Ela destacou o papel de Curitiba como anfitriã da 3ª edição dos Jogos Brasileiros para Transplantados e defendeu a inclusão da data no calendário oficial da cidade. Também participaram da mesa o secretário municipal de Turismo e transplantado renal, Rodrigo Swinka, e a médica Vaneuza Araujo Moreira Funke, do Instituto de Transplante de Medula Óssea (TMO).

57% dos transplantados não voltam ao mercado de trabalho

Um dos pontos mais fortes da exposição do médico Edson Arakaki foi o alerta sobre o desemprego entre transplantados. “O transplante é considerado uma terapia quase curativa, mas 57% das pessoas não conseguem se recolocar no mercado de trabalho. A média de idade é entre 40 e 45 anos, ou seja, numa fase super produtiva da vida. E mesmo assim, muitos vivem sem nenhuma fonte de renda”, afirmou.

Segundo ele, o problema não está nas limitações físicas, mas no preconceito. “Ainda existem muitos mitos entre empregadores de que o transplantado gera mais absenteísmo ou é menos produtivo. Estudos científicos mostram que não. O absenteísmo entre pessoas com doenças crônicas, incluindo transplantados, é menor do que na população em geral”.

O assunto repercutiu entre os vereadores, com Serginho do Posto (PSD), João da 5 Irmãos (MDB), Delegada Tatiana Guzella (União) e Meri Martins (Republicanos) questionando o que o poder público poderia fazer para ajudar na reinserção. Arakaki reforçou que apoio político é fundamental para viabilizar leis específicas e programas de acompanhamento após a cirurgia.

Brasil tem fila de 80 mil pessoas; Paraná se destaca com maior índice de doação

Apesar da fila crescente no Brasil, com 20 mil novos pacientes cadastrados nos últimos dois anos, o Paraná foi destacado como referência positiva. “Aqui a taxa de doação está em torno de 39 por milhão de habitantes, quase no nível dos países da Europa. Isso faz a fila andar mais rápido”, afirmou Arakaki.

A vereadora Rafaela Lupion reforçou o papel de Curitiba nesta conquista, lembrando que a Câmara tem discutido o assunto. “Apresentei projeto de lei para que o Setembro Verde entre no calendário oficial. Quero que tenha a mesma notoriedade que o Outubro Rosa conquistou entre as mulheres”, disse a parlamentar.

Já Vaneusa Funke, do TMO, lembrou que o Paraná também é destaque em transplantes de medula óssea, sendo o segundo estado do país em volume de procedimentos. Ela ressaltou a importância do apoio a casas de acolhimento que recebem pacientes de outras cidades durante o período crítico de recuperação.

Recusa familiar à doação chega a 45% dos casos no país

Outro dado alarmante revelado por Arakaki foi a dificuldade de obter autorização das famílias. “Hoje no Brasil, a recusa das famílias está em torno de 45%. Ou seja, quase metade não aceita doar. E não é por má vontade. É porque é um momento de muita dor, cheio de mitos, tabus e crenças que ainda precisam ser esclarecidos”, relatou.

Ele explicou que abordar familiares em situação de luto exige preparo e sensibilidade das equipes médicas. “Ninguém senta à mesa de jantar para falar de doação. É um assunto difícil, que precisa de gatilhos para se tornar conversa natural”, completou o presidente da ABTx.

Os vereadores Laís Leão (PDT) e Marcos Vieira (PDT) questionaram sobre limites de idade e se a recusa ocorre no momento da morte encefálica ou antes. Arakaki respondeu que cada vez mais há doações ampliadas, inclusive de idosos, e reforçou que o entrave maior é mesmo a falta de informação.

Curitiba recebeu Jogos Brasileiros para Transplantados em 2025

O presidente da ABTx destacou o papel do esporte como uma das formas mais eficazes de mobilizar a sociedade em torno da causa da doação de órgãos. “O esporte acaba fazendo com que as pessoas vejam que o transplantado tem condições de fazer qualquer coisa. Ele pode exercer a sua plenitude física, mental e espiritual”, disse Arakaki.

Rodrigo Swinka, transplantado há 27 anos, deu seu testemunho pessoal na Tribuna Livre. “Hoje eu tenho 27 anos de transplante, quando o médico tinha me dado 10. Voltei a trabalhar, tenho família, dois filhos e já participei de triathlons. A vida do transplantado pode ser normal, desde que siga os cuidados”, confirmou.

Em Curitiba, neste ano, os Jogos Brasileiros para Transplantados chegaram à sua terceira edição, com apoio da Prefeitura e do Legislativo. Segundo Swinka, a ideia é consolidar o calendário com corridas de rua e outras atividades que aproximem a população da pauta da doação. Durante o debate, Fernando Klinger (PL) pediu o empenho do Instituto Municipal de Turismo em fazer de Curitiba destaque nacional nessas competições esportivas.

*Notícia revisada pelo estudante de Letras Celso Kummer
Supervisão do estágio: Ricardo Marques

 

By Câmara Municipal de Curitiba